11 de setembro de 2010

Algodão

Com você aqui, ali, acolá.
O sol nasce mais bonito,
Os pássaros põem-se a cantar.

Com você, estrada não é estrada,
é mar, é céu, travesseiro.
É nuvem. De algodão.

Distância não existe,
barulho é melodia,
mas com você,
só com você.
Se fosse outro, meu bem,
Já não seria.

12 de fevereiro de 2010

Procura-se a Resposta e Novos Horizontes


Nota: "Bartolomeu Dias, 31anos, morador da pequena cidade de Neurolândia, encontra-se desaparecido há cinco dias. Sua família diz que está desesperada e que aguarda ansiosamente pela sua chegada. O indivíduo deixou mulher e oito filhos para trás e, segundo sua família, não há motivos que possam explicar o seu desaparecimento". É aí que entra na história um tal de Orlando Arlindo, muito amigo do sumido Bartolomeu. Ele sabe muito bem que seu amigo não volta porque não tem vontade. Foi-se embora porque quis e nem saber dos filhos quer. Da esposa nem se lembra mais. Esqueceu a velha vida e já pensa em construir uma nova, ao lado de um outro alguém. Cinco anos já se passaram. A família de Bartolomeu, que já perdeu as esperanças, agora sofre e permanece de luto. Deram Bartolomeu por falecido e até enterro sem o corpo pensaram em fazer, pra tentar, de alguma maneira, honrar o, para eles, morto. Orlando Arlindo, vendo o sofrimento da família de seu grande amigo, nem se comove. Ele é amigo do Bartolomeu, não de sua família. Enquanto sua (antiga) família sofre a dor de sua "morte", Bartolomeu se diverte com seus novos filhos e sua nova esposa. Dalva, João e José agora são sua nova família. Ele construiu uma nova vida, conseguiu olhar para novos horizontes e se libertar daquilo que pra ele tinha se tornado cansativo e angustiante. Dalva, agora sua esposa, sabe do acontecido e também não dá importância. Para ela, enquanto Bartolomeu colocasse comida na mesa de casa, tudo estava bem. O que ela não sabia, e que nem mesmo ele, Bartolomeu, não tinha conhecimento, era que ele sofria de perda de memória e que a cada vez que ele esquecia de tudo, ele fugia e saia em busca de outra "nova vida". O homem tinha pra lá de quinze filhos, e de todos esqueceu. Com certeza já estava pra chegar a hora de João e José. E de Dalva também, claro. Mas, pensem bem, Bartô não tinha culpa. Era inocente, coitado. Quando esquecia tudo, não respondia por seus atos. Talvez você não entenda. Psicólogos entederiam. Na verdade, o que deve se passar na cabeça de Bartolomeu é que sempre há uma nova chance de recomeçar. Chegou, então, o dia que Bartô esqueceu-se de Dalva e de seus meninos. Partiu em retirada, sem rumo e sem destino. Sem dizer um "até logo", sem olhar pra seus meninos. João e José sofreram muito, pois o amavam demais. Mas, lá no fundo, eles sabiam do problema do pai. Depois de um longo tempo, se conformaram e nem o procuraram mais. Pensaram que ele tivesse se cansado deles e que foi procurar um novo lar. Mas Bartolomeu não fez nada disso, exatamente. Aconteceu que no meio do caminho, ele encontrou um doutor, um quase psicólogo. É, um quase... porque ele não tinha diploma. Aliás, ele nem tinha estudado. Só disse que era um "doutor quase psicólogo", só isso. Bartolomeu parou e o escutou. Ficaram trocando ideias durante muito tempo. Anoiteceu e eles não se deram conta. Bartô, que tinha esquecido quem era, de onde veio e o que estava indo fazer, resolveu ficar por ali, ouvindo a prosa de seu novo amigo. O doutorzinho, que era mendigo, louco e sofria do mesmo mal que Bartô, disse que, como ele não sabia mais de nada, ele podia continuar por ali, e, se fosse de sua vontade, poderia morar também. Eram dois bancos de praça, apenas. Mas dois belos bancos, para ele. Bartolomeu aceitou sua proposta, e dentro dele havia uma felicidade sem tamanho. Não constituiu nova família, das outras nunca se lembrou, e aquele banco, cedido pelo seu mais novo companheiro, seria o seu novo e aconchegante lar, até um outro possível esquecimento.

Incomum

Um frio, uma súplica, e um homem solitário, mendigando um aconchego. Pede amor, pede atenção, pede carinho. Implora que o olhem, que o observem. Implora um pouco de atenção. Mas é "dia de branco". Tem barulho, desordem, trabalho, confusão. E poucos têm tempo para se compadecer. O homem, coitado... começa a observar os que o cercam. E começa a perceber o que há de sobra em muitos. Levantou-se, caminhou e começou a reparar atenciosamente. Reparar na ambição, nas pessoas, nas faces. Seus rostos apáticos expressivos a sentimentos alheios, sensação incomum e fugaz sentirá naquele momento. Via a angústia, sentia a pressão, sabia que aquele não era seu lugar, não queria isso... Saiu, correu de tudo aquilo que o rodeava. Andando pelas ruas, começará a enxergar aquilo que não via, ou simplesmente fingia que não existia. Era um novo homem, ou pelo menos achava isso. Era apenas mais um cheio da monotonia que o rodeava... Era apenas mais um cego na cidade, que enxergava só o que queria ver.

Lorena Carvalho e Pedro Braz.